Lucidez

Estou em um momento de lucidez aguda, e para não perceber as coisas assim, tão de cara, uso da minha melhor cachaça para me embriagar – as palavras. E nessa vontade de rasgar o verbo, de resgatar as letrinhas nas entrelinhas, eu hesito entre engoli-las ou vomitá-las, e de uma vez pra sempre. Não, não quero me livrar desse meu vício. A verdade mesmo é que quero me libertar. Preciso me salvar, me preservar, para finalmente me sentir livre. Eu queria mesmo ir para um lugar onde você não me alcance, onde você não esteja, qualquer lugar. Um que seja alto o suficiente para ultrapassar os pensamentos que teimam em te pôr a salvo todo o tempo.

Eu quero uma passagem para lugar nenhum e de bônus um amor de verdade. Daqueles autênticos, sem fórmulas, sem receitas, sem promessas, sem soluços, sem palavras prontas ou frases feitas. Pode vir sem devoção, sem morte, sem prazer na dor, e vice-versa. Eu só quero um AMOR. Sim! Com letras maiúsculas, embrulhado para presente, com fita vermelha e cartão escrito à mão. Um amor cheio de defeitos, e mesmo que perdoáveis e completamente reversíveis, eu não mudaria nada. Eu só quero um amor assim, sem precisar provar nada. E sem querer, em meio a esse meu emaranhado de palavras, acabo de compreender algumas condições. Agora já posso provar algumas coisas para mim. Apenas para mim.

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Paz e bem!