De esquerda

Eu prefiro o lado direito, porque no esquerdo já tem coisa demais. No direito eu uso anel, pulseira, caneta, franja e força. Também nesse ombro eu carrego a minha bolsa, com as cartas do meu futuro castelo, sonhos por realizar, e passe livre para qualquer lugar. Na esquerda tem o meu coração que teima em se exceder. Espaçoso que só, e me pesa. Eu quase sucumbo para esse lado, o seu. Você, o meu lado torto. E ele, sorrateiramente se derrama sobre todos os órgãos sem pedir licença. Invade, se alastra e dissemina. Cria caso com a razão, que acaba por aceitar a perda. E eu, que apreciava tanto a destreza, agora me encontro completamente esquerda.

***

"Na certa mereceria um dia o céu dos oblíquos onde só entra quem é torto"

A Hora da estrela, pag 35 , CLARICE LISPECTOR

***

Paz e bem!